sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Do não ser ao que sou

Quem te disse ò alma que sabes quem sou,
Que nos rios que correm o mar lá deixou,
Mensagem para mim, poeta que sou,
Nas palavras perdidas que o mundo deixou,
Incertezas na vida que passam por mim.

Sou raio de luz para quem já ficou,
Perdido no rumo que uma noite mudou,
Estarrecido, incrédulo em crer no que voou,
Para além do céu que a terra desertificou,
Num passo esquecido dado com frenesim.

Para onde caminho, não sei, sei que vou,
Procurando o sentido do sol que raiou,
Num telhado que fiz na casa que lá ficou,
Um dia no tempo, passado, que a hora estancou,
Numa saudade de algo em flor de cetim.

Colho hoje o fruto que a dor perpetrou,
Num coração selvagem que a chuva molhou,
Não sei quem sou, apenas que me dou,
A altivas formas de ser quem não sou,
Num mar de lágrimas que corre em meu jardim.

Jardim, que não tenho já, tive, não voltou
A ser como era, alguém o violentou,
Tirando-lhe o brilho que em tempos me revoltou,
As entranhas e manhas que o tempo agarrou,
Em hora esquecida que nasce de mim.


Vítor Fernandes

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